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A ação performática Hotel Relento, realizada na Vila de Itaúnas,entre 19 e 21 de março de 2015, foi construída a partir de uma proposta não realizada: pessoas dormirem uma noite em camas montadas na praia e contarem, durante um café da manhã, os sonhos que o sono ao relento provocou. A proposta foi sendo feita para cada habitante que passava pela rede de amizade que nos dedicamos a construir na vila. Surpreendentemente, ela foi aceita somente pelo seu valor poético, sem necessitar de uma explicação adicional que fizesse sentido prático às lógicas de interações humanas usuais. A existência de uma antiga Vila sob as dunas onde as camas seriam montadas potencializou o alcance ao imaginário dos habitantes do local. No período de uma semana envolvemos mais de 40 moradores, 15 camas, roupas de cama e colchões, transporte, alimentos para lanches e café da manhã, locais e equipamentos de apoio, uma equipe. Idas e vindas de trator, montagens e desmontagem de camas, 25 minutos de forno para o bolo do café da manhã, subidas e descidas nas areias das dunas, desvios de rotas. 

A instalação foi montada e os participantes da dinâmica sonífera já chegavam quando veio o primeiro sereno. Os primeiros cochilos foram interrompidos pela chuva. Dormir nos torna vulneráveis. Dormir ao relento é um pacto de confiança com a natureza. Aquela chuva era um adiantamento da chuva prevista para alguns dias depois. Nosso pacto com São Pedro fora cancelado sem aviso prévio. Revisamos a previsão e resolvemos arriscar mais uma noite. As camas passaram mais um dia nas dunas, muitas pessoas aproveitaram a obra como uma instalação, alguns dormiram mesmo, nós dormimos. Mas a chuva, em uma garoa de 10 minutos, mudou nossos planos de novo. Fez-se obra o movimento, fez-se obra a mobilização criada pelo pretexto de sonhar a céu aberto, a dança que a Vila dançou, sem saber onde começa nem onde termina.

 

Nota de viagem. Itaúnas-ES, Março de 2015

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